Pesquisar este blog

segunda-feira, 2 de maio de 2011

No Brasil que bate recordes de produção agrícola, há 21 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza.

Presidi, com muita honra, semanas atrás, a sessão solene de colação de grau da turma de Agronomia 2010/B. Foi um evento solene, festivo e emocionante, mas que também serviu para uma reflexão entre os oradores e o público presente sobre as carências públicas em relação às políticas agrícolas, agrárias e do agronegócio.

O orador da turma formando Ricardone de Souza Neto, o paraninfo, professor Sílvio e eu abordamos as responsabilidades, os compromissos, as oportunidades e a amplitude de atuação profissional na área agrícola nacional.

Discutimos as políticas nacionais para o segmento agrícola e do agronegócio,  os crescentes níveis da produção de grãos, o acelerado processo de evolução tecnológica, os efeitos do desenvolvimento sobre a devastação ambiental e o impacto sobre as alterações climáticas, as possibilidades de inclusão social pela geração de emprego e renda na área rural, mas também o violento processo de exclusão social que a exploração do trabalho agrícola promove por todo o país, em especial nas regiões potencialmente rurais.

Um dos enfrentamentos fundamentais a serem assumidos pelos novos e comprometidos profissionais das áreas agrárias consiste na discrepância entre a injusta concentração de latifúndios, alguns improdutivos, nas mãos de poucos ruralistas e a necessidade do trabalhador rural migrar para as cidades -o famoso êxodo rural- em busca de melhores condições.

Buscamos chamar a atenção dos que prestigiavam a conclusão de mais uma etapa do ciclo de vida daqueles jovens formandos, para a incoerência e até inconsistência que cerca o Brasil. Nesse mesmo país que atinge recordes constantes de produção de grão, mais de vinte milhões de brasileiros vivem economicamente abaixo da linha de pobreza. Não possuem renda, ou ela é muito baixa e, por isso, recebem do governo subsídios financeiros, de recursos sociais, juntamente com cestas básicas e medicamentos.

 Se por um lado, durante as reflexões provocadas, lembramos a profundidade e a complexidade dos desafios que precisam ser enfrentados, por outro, lembramos também aos presentes que os 28 mais novos engenheiros agrônomos têm o domínio pleno e consistente das bases conceituais e introdução a práticas profissionais que lhes permitem atuar como agentes sociais ativos na transformação dessa realidade, com iniciativa empreendedora e competência técnico-científica capazes de mover a realidade para patamares mais justos e nobres. 

Fica, então, a questão, para a qual gostaria de ter a sua colaboração: como e com que olhos você vê essa situação, mais especialmente, que realidade se vê a outros olhos, e, com que alternativas se prevê a solução dessa realidade?

Um abraço forte a até a próxima semana.

7 comentários:

Rafael Matos disse...

Professor Valter,

Entendo que é muito importante resolver a questão da renda dos brasileiros. Divulga-se muito as vagas de empregos, mas qual é a renda que eles proporcionam? Também se fala na falta de profissionais qualificados, mas também nunca tivemos tantas pessoas dentro do ensino superior, e olha que apesar disso é número bem abaixo de médias mundiais. O que ocorre? Será que estamos formando profissionais nas áreas erradas? O trabalho precisa ser mais valor, sob pena de criarmos uma geração satisfeita com subsídios.

abs

Rafael

Cilene Macedo disse...

Com correção.

Professor Valter,

Na linha de pensamento do Rafael, penso que muitos acadêmicos vão para o mercado de trabalho com um título, mas sem experiências e as empresas colocam como pré-requisito de contratação a experiência de X anos na área. Isso dificulta para ambos os lados. Não é raro vermos empresas que fazem seleção e não conseguem achar candidatos à altura das exigências do cargo. Vagas de emprego têm. Pessoas desempregadas também. Onde será que mora o problemas?

Abs

Cilene

Anônimo disse...

Professor Valter,

É com muito alegria que observo os profundos comentários sobre a questão agrária brasileira, que o colega nos oferece. Percebo a preocupação em relação ao quadro de contraste entre produção e a pobreza, mostrando que o desiquilibrio social continua, ou aumentou.

Depois de 20 anos da minha formatura, na centenária Escola de Agronomia da Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas - UFPEL, pe4cebo que a problemática continua praticamente a mesma, e vou ousar usar algumas palavras de do meu professor de Administração e Economia Rural, Ciloter Ibarrabem, hoje diretor da Empresa de Consultoria Agricola Safras e Cifras - Pelotas/RS:

O problema em nosso pais em relação as questões agropecuária reside NA FALTA DE UMA POLÍTICA AGRICOLA SÉRIE E CONSISTENTE VOLTADA AOS PRODUTORES RURAIS, ou seja o produtor se mata trabalhando e que no final irá ganhar é o "atravessador"que compra sua produção a baixíssimos custos.

Agora relacione esta realidade a estes novos egressos da área das agrárias que estão entrando neste mercado, ou seja é muito complicado para estes vivenciar e resolver estes problemas.

Espero ter contribuido um pouco nesta inportante discussão.

Grande abraço

Gilmar Plá

Celso Albuquerque disse...

Saudações Prof. Valter,

Que assunto mais difícil de discutir! Porque a agricultura brasileira é tão imensa em todos os sentidos, que quando achamos que as coisas estão ruim para uns, outros estão rindo e andando nas "nuvens". Por exemplo, o maior produtor de soja do país tem mais de 140 mil hectares de área plantada, um "produtor" desses tem poder de fazer o preço do produto dele, se ele deixar de vender, falta produto e o mercado ficará desesperado. Essa situação, é muito diferente dos nossos produtores aqui de Santa Catarina, que são pequenos, que na maioria das vezes não conseguem manter a renda da família apenas com a agricultura. Esses, o atravessador como disse o prof. Gilmar vem e paga o que quer para o produtor, que é obrigado a vender nessa condição para não perder o produto. Então, enquanto não tivermos uma política de verdade para a agricultura isso nunca mudará, e o pior de tudo, é que produzimos alimentos para sustentar boa parte do mundo e ainda temos essa quantidade enorme de pessoas dentro do nosso país passando fome. Enquanto essa política não existe como deveria, cabe a nós agrônomos incentivar e defender os produtores, encontrar alternativas de renda, de agregação de valor, mostrar para a população o valor de todas as pessoas envolvidas nesse processo, que o agricultor deve ser respeitado assim como o agrônomo....
Enquanto isso a soja é mais cara que o arroz!!!!

Abração e vamos em frente!

Celso Albuquerque.

Rossana disse...

Prof. Valter

Considero muito oportuna esta discussão, principalmente nesta semana em que o Congresso Nacional mais uma vez adia a votação do novo Código Florestal Brasileiro em função da falta de consenso entre o setor produtivo e os ambientalistas. E este é mais um desafio aos nossos recém formados. Se o código for aprovado nos moldes em que se apresenta, segundo relatos 90% dos estabelecimentos rurais do País se encontram em situação irregular. Santa Catarina em particular será bastante afetada, principalmente as áreas de fruticultura. Muitas pequenas propriedades correm o risco de desaparecerem dentro do modelo proposto. Precisamos preservar sim e buscar formas alternativas de produção sem degradar o meio ambiente. Dentro desta perspectiva e considerando que a base da propdução de alimentos no País advém da Agricultura Familiar, precisamos de políticas e desenvolvimento de tecnologias que possam desenvolver este setor produtivo. Apoiar iniciativas baseadas na produção orgânica que não polui e não agride ao meio ambiente, que aumente a produtividade e portanto não necessite de um aumento de área plantada.
Um abraço
Rossana

gabinete do senador Luiz henrique disse...

Caro Valter,

Que vergonha. Um País tão rico e tão pobre. É lamentável a constatação desse disparate entre o nosso povo. Obrigado pela informação.
Um abraço
gabinete do senador Luiz henrique

Michel disse...

Prof. Valter,

O mais importante em todo o contexto discutido é a base para resolvermos o grande problema de distribuição de renda. Temos um importante e novo momento histórico sendo construído e que não estamos nos atentando. Li a pouco tempo um artigo sobre inovação que troxe à luz um assunto que julgo ser o mais pontual para o momento que estamos vivendo que é: A Inovação da Sociedade. Neste texto podemos perceber que históricamente tivemos a inovação atrelada à novas práticas e desenvolvimento tecnológico. No atual momento de construção social precisamos de uma inovação na organização social pois, precisamos atender aos novos desafios que estamos enfrentando.

Ao mesmo tempo que a tecnologia avança, trazendo mais produtividade, a sociedade afasta-se cada vez mais dos meios produtivos primários, criando um contra peso de desequilíbrio na esfera de atenção as necessidades básicas da sociedade. Falo isso destacando que um novo modelo social, apenas será possível através da educação e da concientização dos formadores de opinião para este novo momento e, fico muito feliz em saber que a Unisul consegue fazer com que recém formados, consigam ter uma visão tão ampla das maselas sociais que afligem nosso mundo. Com certeza a instituição está fazendo sua parte para construção deste novo momento, formando cidadãos críticos e comprometidos com soluções inovadoras, para problemas cotidianos.

Abraço,

Michel

Postar um comentário